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Construindo lembranças para recontar a história da família (Imagem: arquivo pessoal / Valeria Souit) |
Participar deste depoimento é algo que me traz uma nova postura de vida, pois é conseguir colocar a minha opinião, mesmo que tardia, em prática. Pretendo com isso ajudar a mães, familiares, médicos, enfim, todas as pessoas envolvidas nesse processo que é descobrir que uma gestação é de um feto anencéfalo.
Quando hoje eu escuto alguém dizer: "O melhor é interromper a gestação, pois levar adiante é um trauma para a mãe", eu me pergunto como eu vou fazer para mostrar que a interrupção me trouxe um trauma com culpa que se arrastou por 19 anos. Essa culpa está perdendo espaço depois de muita terapia, e também após ter me juntado ao Grupo Vida Acrania e Anencefalia. Aprendi como é importante que os sentimentos sejam expostos e percebi que este diagnóstico é realmente muito doloroso, mas quando é aceito, a recuperação dessas mães se torna possível.
É preciso aceitar e amar nossos filhos. Toda história tem que ter um começo, um meio e um fim. Acompanhando as histórias de outras mães, pude perceber que o que me faltou foi vivenciar o amor, esperando meus filhos nascerem. Sim, eu tive dois bebês anencéfalos. E como me fez falta tocá-los, dizer o quanto eu os amava, me despedir deles com dignidade e sepultá-los.
Fazer parte desse grupo é desejar do mais profundo do meu coração que toda mãe que passar por esse diagnóstico pense e repense antes de interromper sua gestação, se não estiver REALMENTE correndo risco de vida.
Viver esse amor é tudo que hoje eu gostaria. Vou tentar fazer um resumo das minhas gestações.